Inspira-se em uma herança renascencista reinventada pelo povo de São Tomé e Príncipe, que se tornou em tempos um símbolo de resistência face à anterior dominação colonial portuguesa, o Tchiloli. Esta herança renascentista é actualmente reconhecida como uma das mais ricas tradições culturais de São Tomé e Príncipe, estando inclusive em curso a sua candidatura a património imaterial da humanidade.
As suas reflexões partem assim de uma
referência ligada à história colonial de São Tomé e Príncipe e misturam-se com
a realidade actual, vivida pelo próprio artista nas mais diversas geografias
europeias e africanas. Nelas encontramos as personagens do Tchiloli, mas também
os protagonistas do quotidiano das Ilhas – com especial destaque para a
representação das crianças a brincar na rua e para as mulheres nos seus
afazeres domésticos –, em cenários cuja técnica entre o desenho e a pintura
convoca ainda outras “mestiçagens” (como o próprio ironiza) num mesmo espaço
simbólico.
René Tavares traduz em traços, linhas
e manchas uma síntese pessoal da sua própria identidade, sempre em processo
(“inacabado”), posicionando-se em constante movimento entre referências
passadas e presentes. Interessa-lhe aprofundar a permeabilidade das fronteiras
entre histórias, linguagens e técnicas e partilhar esse percurso exploratório.
É um artista que reflecte nos seus trabalhos a sua própria experiência de
deslocação contemporânea entre as mais diversas zonas de contacto
pós-coloniais.
Formado na Escola de Belas Artes de
Dakar, no Senegal, participou paralelamente em diversos workshops em São Tomé,
no espaço Teia d’Arte. Em 2004, integrou o curso de pintura, desenho e
instalação, orientado pela artista Maria Magdalena Campos durante a bienal de
Dak’art. Já expôs em São Tome, Lisboa, Évora, Paris, Bordéus, Bruxelas,
Amsterdão, Luanda e Porto, entre outras cidades. Mais recentemente, participou na exposição colectiva
“Africa now”, em Washington, organizada pelo Banco Mundial. Participou em 2008
na V Bienal Internacional de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe. Ganhou em
2008/09 uma bolsa na École de Beaux Arts de Rennes
(França) para desenvolver
as suas pesquisas plásticas em Rennes (França) e integrou
paralelamente o curso de fotografia do projecto ARC/Rennes. Em 2011 integrou a VI Bienal Internacional de
Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe.
Actualmente frequenta o Mestrado em
Ciências de Arte e do Património na Faculdade de Belas Artes da Universidade de
Lisboa.
Vive e trabalha entre Lisboa e São
Tomé.